Algumas coisas só valorizamos quando precisamos delas. Ao ouvir falar em acessibilidade logo pensamos em “papo de ONG’s” e “proteção de minorias”.
Uma pessoa em condições normais de locomoção dificilmente entenderá essa necessidade. Por isso, é impossível para a maioria do cidadãos compreender o sacrifício de um cadeirante em Uberaba e tantas outras cidades pelo Brasil afora.
Depois de 38 anos andando “normalmente”, gozando de uma saúde plena, fui acometido por uma doença autoimune que me deixou com limitações temporárias. Ao ficar com mais de 90% do corpo paralisado ou com pouca capacidade muscular, experimentei meu primeiro dia como cadeirante.
Por mera burocracia, coisa típica brasileira, fui forçado a sair de casa pela primeira vez depois da mazela. Percorri, com auxílio de três pessoas, os poucos metros que separam o Sicoob do Banco Itaú, ambos na avenida Leopoldino de Oliveira, principal via da cidade.
Nessa curta experiência comecei a admirar, e muito, quem vive há anos sobre rodas e consegue ter autonomia. Se, para mim, que era empurrado por um, com outro para revezar e mais uma enfermeira, foi tremendamente penoso imagino como é para alguém sozinho.
As dificuldades começam pela qualidade das calçadas e pelas inúmeras rampas de garagem que obstruem a passagem da cadeira. Muitas das próprias rampas ditas de acessibilidade são verdadeiros elefantes brancos. É o caso, por exemplo, das que circundam o Mercado Municipal e levam o cadeirante para uma verdadeira trilha com inúmeras árvores e outros acessórios de comércio bloqueando completamente o acesso. Por fim, no destino, o completo desrespeito com deficiente pois, chegando ao Banco, levaram mais de 15 minutos para providenciar o acesso, depois de muita desinformação e aborrecimento.
No regresso ainda fiquei surpreso com a sinalização semafórica. Neste quesito, que tem recebido constante investimento nos últimos tempos, muitos pontos não foram contemplados com sinais para pedestres e, muito menos, com foco nos cadeirantes.
Enfim, me entristeço por não ter sido tão sensível quanto o assunto exige. Nessas horas, aquela paradinha despretensiosa na vaga reservada a portadores de necessidades especiais dói no peito e aquele bloqueio da rampa de acessibilidade se torna uma tremenda vergonha.
Portanto, não espere necessitar para ser consciente. Respeite a dor alheia. Se não for sensível à dor, respeite a lei mesmo. Além disso, informe-se das políticas públicas para os menos favorecidos. Se Deus quiser você nunca precisará, mas ninguém sabe o dia de amanhã, e você poderá estar fazendo um bem para si mesmo!
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