Historicamente o mês de outubro me prega peças.
Nesse mês abençoado eu passei por um episódio forte de depressão, há mais ou menos 4 anos, e exatamente há 731 dias, 2 anos, iniciou a minha história com a Síndrome de Guillain- Barré (variável de Miller Fisher), depois de ter contraído uma infecção intestinal.
Diferente do que muitas pessoas que nunca tiveram um problema tão grave de saúde pensam, não tem como ser grato por nada nessa história, já que o melhor seria não ter passado por nada disso, mas considero leviano dizer que essa experiência não me mudou completamente.
Com a síndrome tive vários aprendizados, dentre eles o valor e a importância de coisas pequenas e que, via de regra, nem fazemos tanta questão, como por exemplo: RESPIRAR, TOMAR ÁGUA E VIVER. Tudo isso são coisas essenciais, valiosas e que são de graça, mas praticamente ninguém agradece ou comemora, porque só se percebe o valor delas quando se perde.
Graças a Deus e com ajuda dos familiares, amigos e profissionais, eu me recupero um pouco mais a cada dia. Me tornei uma pessoa com deficiência e muitas limitações, porém estou aprendendo de grão em grão a ser alguém melhor num corpo diferente, compreendendo que a aceitação é um passo necessário, embora seja difícil conviver com dores (físicas e mentais) e frustrações de se ver furtado de praticamente tudo que mais gostava.
Aliás, passando por tanta coisa posso perceber que a ignorância do ser humano é imensa por precisar de tamanho carma para entender fatos que parecem tão óbvios. Somente sendo deficiente para descobrir o quanto as políticas públicas, sociais e o comportamento das pessoas é mesquinho com relação a quem precisa.
A maioria das coisas são feitas para cumprir leis e para atender os próprios interesses e nunca visando o bem daquele que precisa e poderia escrever milhões de justificativas para essa afirmação, desde rampas para cadeirantes obstruídas pela insensibilidade de motoristas inescrupulosos ou até mesmo pelo descomprometimento de governantes que às fazem de maneira totalmente “inadequada”, gastando dinheiro público de forma equivocada e, novamente, sem envolver de maneira satisfatória aqueles que realmente precisam disso como meio de vida.
Bem, mas nem tudo são espinhos. Nesse caminho doloroso eu também conheci um lado humano intenso, de pessoas conhecidas ou desconhecidas, que deram amor, carinho, ajuda, compreensão, dinheiro, esforço e coisas diversas sem as quais, provavelmente, eu não estaria mais aqui para contar essa pequena história.
Enfim, me despeço agradecendo a todos que de forma direta ou indireta me ajudaram nessa caminhada. Confesso que a lida é dura, cara, dolorosa, sem garantias de sucesso, mas, com bastante fé e esperança me comprometo a dar até a última gota de lágrima ou suor para justificar essa existência.
E parafraseando a letra do Vintage Culture, Manifesto: “Axé pra quem é de axé, amém pra quem é de amém. Pra ser do bem pra quem é de magia e amor pra quem é do bem”. Vamos em frente sempre!
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